Aracaju (AE) - O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou
que o empresário Marcos Valério, operador do mensalão, revelou ao
Ministério Público ter novas informações sobre o esquema de corrupção
que colocariam sua vida em risco. Por enquanto, afirmou Gurgel, não
haveria necessidade de colocar Valério sob proteção. No entanto, os
novos depoimentos o colocariam sob risco. "A notícia que me foi
transmitida foi de que não havia nada que justificasse uma providência
imediata", disse Gurgel. "Agora se ele viesse a fazer novas revelações,
esse risco poderia se consubstanciar", confirmou o procurador.
O
jornal O Estado de S. Paulo revelou que Valério prestou depoimento ao MP
em setembro. E encaminhou um fax ao Supremo Tribunal Federal (STF)
pedindo proteção à sua vida e em troca se disporia a colaborar com novas
informações sobre o esquema de corrupção. Nesse depoimento, Valério fez
referências ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao ex-ministro
Antonio Palocci e ao assassinato do prefeito de Santo André, Celso
Daniel.
A promessa de colaboração feita ao Ministério Público
não beneficiará Valério no julgamento do mensalão. O empresário foi
condenado pelos crimes de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro,
corrupção ativa, evasão de divisas e peculato. A pena ultrapassa 40
anos, mas ainda pode ser reduzida.
Gurgel afirmou que Valério só
se beneficiaria dessa colaboração, com a redução de pena, por exemplo,
nos demais processos que responde em outras instâncias da Justiça, como o
processo do mensalão mineiro, que tramita em Minas Gerais. "Isso não
poderá influir na ação penal 470 (processo do mensalão), mas nos outros
processos em curso", admitiu Gurgel. Esses processos ainda aguardam o
fim da instrução criminal para depois serem julgados.
Para que
fosse beneficiado no julgamento do mensalão pelo Supremo, explicou
Gurgel, Valério deveria ter colaborado com as investigações no ano
passado, quando a instrução da ação penal ainda estava em aberto. O
procurador ponderou que só analisará a proposta de colaboração de
Valério quando terminado o julgamento do mensalão, o que deve ocorrer
nas próximas semanas.
"A prioridade da Procuradoria-Geral da
República é concluir este julgamento", explicou Gurgel. Além disso,
ressaltou ser necessário cuidado ao avaliar a promessa de alguém que
está sendo julgado. "O depoimento de qualquer pessoa que está
respondendo a uma ação penal tem que sempre ser visto com muita
cautela", disse.
No caso de Valério, o cuidado seria ainda
maior, pois o empresário teve a oportunidade de colaborar com as
investigações ao longo do processo do mensalão e nunca ajudou. Ao
contrário do defendido por alguns ministros do Supremo, Gurgel
mostrou-se contrário à possibilidade de reduzir "drasticamente" a pena
de Valério. Somadas, as penas calculadas pelos ministros do Supremo a
Marcos Valério superam 40 anos de reclusão. Integrantes da Corte
afirmaram, reservadamente, que podem diminuir a pena do empresário em
razão da ajuda que teria dado às investigação ao entregar a lista com os
nomes dos parlamentares beneficiados pela distribuição de recursos do
mensalão.
Um dos ministros disse que sem essa colaboração,
dificilmente o Ministério Público conseguiria chegar a todos os
deputados que receberam dinheiro do esquema em troca de apoio ao governo
Lula
"Não houve maiores colaborações do Marcos Valério", disse
Gurgel. O procurador lembrou que o empresário prometeu em diversos
momentos colaborar com as investigações. No entanto, o depoimento que
prestou durante a instrução do processo do mensalão não ajudou o MP.
"Foi um depoimento que não acrescentou nada. Mas essa é uma avaliação
que cabe ao Supremo", disse.
Fonte: Tribuna do Norte
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