terça-feira, 6 de novembro de 2012

Procurador admite riscos para Valério

Aracaju (AE) - O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou que o empresário Marcos Valério, operador do mensalão, revelou ao Ministério Público ter novas informações sobre o esquema de corrupção que colocariam sua vida em risco. Por enquanto, afirmou Gurgel, não haveria necessidade de colocar Valério sob proteção. No entanto, os novos depoimentos o colocariam sob risco. "A notícia que me foi transmitida foi de que não havia nada que justificasse uma providência imediata", disse Gurgel. "Agora se ele viesse a fazer novas revelações, esse risco poderia se consubstanciar", confirmou o procurador.

O jornal O Estado de S. Paulo revelou que Valério prestou depoimento ao MP em setembro. E encaminhou um fax ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo proteção à sua vida e em troca se disporia a colaborar com novas informações sobre o esquema de corrupção. Nesse depoimento, Valério fez referências ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao ex-ministro Antonio Palocci e ao assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel.

A promessa de colaboração feita ao Ministério Público não beneficiará Valério no julgamento do mensalão. O empresário foi condenado pelos crimes de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, corrupção ativa, evasão de divisas e peculato. A pena ultrapassa 40 anos, mas ainda pode ser reduzida.

Gurgel afirmou que Valério só se beneficiaria dessa colaboração, com a redução de pena, por exemplo, nos demais processos que responde em outras instâncias da Justiça, como o processo do mensalão mineiro, que tramita em Minas Gerais. "Isso não poderá influir na ação penal 470 (processo do mensalão), mas nos outros processos em curso", admitiu Gurgel. Esses processos ainda aguardam o fim da instrução criminal para depois serem julgados.

Para que fosse beneficiado no julgamento do mensalão pelo Supremo, explicou Gurgel, Valério deveria ter colaborado com as investigações no ano passado, quando a instrução da ação penal ainda estava em aberto. O procurador ponderou que só analisará a proposta de colaboração de Valério quando terminado o julgamento do mensalão, o que deve ocorrer nas próximas semanas.

"A prioridade da Procuradoria-Geral da República é concluir este julgamento", explicou Gurgel. Além disso, ressaltou ser necessário cuidado ao avaliar a promessa de alguém que está sendo julgado. "O depoimento de qualquer pessoa que está respondendo a uma ação penal tem que sempre ser visto com muita cautela", disse.

No caso de Valério, o cuidado seria ainda maior, pois o empresário teve a oportunidade de colaborar com as investigações ao longo do processo do mensalão e nunca ajudou. Ao contrário do defendido por alguns ministros do Supremo, Gurgel mostrou-se contrário à possibilidade de reduzir "drasticamente" a pena de Valério. Somadas, as penas calculadas pelos ministros do Supremo a Marcos Valério superam 40 anos de reclusão. Integrantes da Corte afirmaram, reservadamente, que podem diminuir a pena do empresário em razão da ajuda que teria dado às investigação ao entregar a lista com os nomes dos parlamentares beneficiados pela distribuição de recursos do mensalão.

Um dos ministros disse que sem essa colaboração, dificilmente o Ministério Público conseguiria chegar a todos os deputados que receberam dinheiro do esquema em troca de apoio ao governo Lula

"Não houve maiores colaborações do Marcos Valério", disse Gurgel. O procurador lembrou que o empresário prometeu em diversos momentos colaborar com as investigações. No entanto, o depoimento que prestou durante a instrução do processo do mensalão não ajudou o MP. "Foi um depoimento que não acrescentou nada. Mas essa é uma avaliação que cabe ao Supremo", disse.
Fonte: Tribuna do Norte

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